Chama-se de leitura a frio um conjunto de
técnicas usadas por manipuladores profissionais para fazer com que uma pessoa
se comporte de uma certa forma, ou a pensar que os que fazem a leitura têm
algum tipo de capacidade especial que "misteriosamente" permite que
saibam coisas sobre ela. A leitura a frio vai além das ferramentas usuais de
manipulação, sugestão e adulação. Através dela, vendedores, hipnotizadores,
publicitários, curandeiros, vigaristas e alguns terapeutas tiram proveito da
predisposição dos clientes a encontrar mais significado numa situação do que
realmente existe. O desejo de encontrar sentido em nossas experiências já nos
levou a várias descobertas maravilhosas, mas também levou muitos de nós a
desvarios. O manipulador sabe que sua vítima tenderá a tentar encontrar sentido
em qualquer coisa que se diga a ela, não importa o quão absurda ou improvável.
Sabe também que as pessoas normalmente
são egocêntricas, que tendem a ter visões pouco realistas de si mesmas e que geralmente aceitam alegações que refletem, não o que são, ou mesmo o que realmente pensam ser, mas o que desejariam ser ou o que pensam que deveriam ser. Também sabe que, dentre as diversas alegações que fizer sobre você, e que você rejeitar como incorretas, irá sempre fazer uma que encontre sua aprovação. E sabe que você se lembrará dos acertos que ele fizer e se esquecerá dos erros.
são egocêntricas, que tendem a ter visões pouco realistas de si mesmas e que geralmente aceitam alegações que refletem, não o que são, ou mesmo o que realmente pensam ser, mas o que desejariam ser ou o que pensam que deveriam ser. Também sabe que, dentre as diversas alegações que fizer sobre você, e que você rejeitar como incorretas, irá sempre fazer uma que encontre sua aprovação. E sabe que você se lembrará dos acertos que ele fizer e se esquecerá dos erros.
Assim, um bom manipulador pode fornecer uma leitura para
uma pessoa totalmente estranha, o que irá fazer com que essa pessoa sinta que
ele possui algum poder especial. Por exemplo, Bertram Forer nunca o
conheceu, embora ofereça a seguinte leitura a frio a seu respeito:
Algumas de suas aspirações tendem a ser bem irrealistas.
Você às vezes é extrovertido, afável e sociável, embora em outras vezes seja
introvertido, cauteloso e reservado. Descobriu que não é recomendável ser
excessivamente sincero ao se revelar para outras pessoas. Tem orgulho de pensar
de forma independente e não aceita afirmações de outros sem provas satisfatórias.
Prefere uma certa mudança e variedade, e fica insatisfeito quando é cercado por
restrições e limitações. Às vezes tem sérias dúvidas sobre se tomou a decisão
correta ou fez a coisa certa. Disciplinado e com auto-controle por fora, tende
a ser preocupado e inseguro no íntimo.
Seu ajustamento sexual tem apresentado alguns problemas.
Embora tenha algumas fraquezas de personalidade, geralmente é capaz de
compensá-las. Você tem uma considerável capacidade não utilizada, que ainda não
usou a seu favor. Tende a ser crítico em relação a si mesmo. Sente forte
necessidade de que outras pessoas gostem de si e o admirem.
Eis outra leitura:
Pessoas próximas têm tirado vantagem de você. Sua
honestidade básica tem obstruído seu caminho. Você teve de renunciar a muitas
oportunidades que lhe foram oferecidas no passado por recusar-se a tirar
vantagem dos outros. Gosta de ler livros e artigos para aprimorar a mente. Na
verdade, se você já não estiver no ramo dos serviços pessoais, deveria estar.
Tem uma capacidade infinita de compreender os problemas das pessoas, e pode
simpatizar com elas. Mas é firme quando confrontado com a obstinação ou a estupidez
pura e simples. Outra área que você compreende bem poderia ser a da lei. Seu
senso de justiça é bastante forte.
Este último é do astrólogo Sidney Omarr. Ele nunca o viu e
ainda assim sabe tanto sobre você (Flim-Flam!, 61). O primeiro foi
tirado por Forer de um livro de astrologia de banca de revistas.
A seletividade da mente humana está sempre em funcionamento.
Procuramos e escolhemos quais dos dados iremos lembrar e a quais deles
atribuiremos significado. Em parte, fazemos isso em função do que já acreditamos
ou queremos acreditar. Em parte, fazemos isso para encontrar sentido na
experiência pela qual estivermos passando. Não somos manipulados apenas por
sermos crédulos ou sugestionáveis, ou apenas porque os sinais e símbolos do
manipulador são vagos ou ambíguos. Mesmo quando os sinais são claros e somos
céticos, ainda assim podemos ser manipulados. Na verdade, é possível que as
pessoas especialmente brilhantes sejam as mais propensas a ser manipuladas
quando a linguagem é clara e elas raciocinam logicamente. Para se fazer as
conexões que o manipulador deseja que se façam, é preciso que se pense
logicamente.
Nem todas as leituras a frio são feitas por manipuladores
maliciosos. Algumas são feitas por astrólogos, grafólogos, leitores de tarô e
paranormais que realmente acreditam ter poderes psíquicos. Ficam tão
impressionados com suas predições e descobertas corretas quanto ficam seus
clientes. Devemos nos lembrar, no entanto, que assim como os cientistas podem
errar em suas predições, pseudocientistas e charlatães também podem errar nas
deles.
Parece haver três fatores comuns a esses tipos de leituras. Um deles é o jogar verde. O paranormal diz algo vago e sugestivo, por exemplo, "tenho um forte sentimento sobre janeiro aqui". Se o cliente reagir, positivamente ou negativamente, a próxima jogada do paranormal é representar de acordo com a reação. Por exemplo, se a pessoa disser, "Eu nasci em janeiro", ou "minha mãe morreu em janeiro", o paranormal dirá algo como "Sim, posso ver isso", qualquer coisa que reforce a idéia de que se foi mais preciso do que realmente foi. Se a pessoa reagir negativamente, por exemplo, "não consigo pensar em nada especial com relação a janeiro", o paranormal poderia responder, "Sim, eu vejo que você suprimiu uma lembrança a respeito disso. Você não quer se recordar dela. Algo doloroso em janeiro. Sim, eu sinto isso. É na região lombar [jogando verde]... ah, agora está no coração [jogando verde]... humm, parece ser uma dor na cabeça [jogando verde]... ou no pescoço [jogando verde]". Se o cliente não esboçar nenhuma reação, o paranormal pode abandonar a área deixando firmemente implantada na mente de todos que ele realmente 'viu' algo, mas que a supressão do evento pelo cliente impediu que ambos obtivessem os detalhes do ocorrido. Se a pessoa der uma resposta positiva a qualquer das tentativas de jogar verde, o paranormal dá seqüência com mais "Vejo isso claramente agora. Sim, o sentimento no coração está ficando mais forte".
Jogar verde é uma verdadeira arte e um bom mentalista
carrega munição variada na memória. O mentalista profissional e autor de um dos
melhores livros sobre leitura a frio Ian Rowland (2002), por exemplo, diz ter
gravadas na memória coisas como os nomes masculinos e femininos mais comuns e
uma lista de itens que provavelmente são encontrados numa casa, como um
calendário velho, um álbum de fotos, recortes de jornal e assim por diante.
Rowland também trabalha certos temas que provavelmente irão ter ressonância com
a maioria das pessoas que consultam paranormais: amor, dinheiro, carreira,
saúde e viagens. Como a leitura a frio pode ocorrer em vários contextos,
Rowland explora diversas táticas. Mas não importa se a pessoa trabalhe com astrologia, grafologia, quiromancia, psicometria, ou cartas de Tarô, ou esteja canalizando mensagens
dos mortos à la James Van
Praagh, há técnicas específicas que ela pode usar para impressionar os clientes
com sua capacidade de saber coisas que parecem exigir poderes paranormais.
Outra característica dessas leituras é que apresentam-se
numerosas afirmações na forma de uma declaração vaga ("Estou
tendo um sentimento de calor na região da virilha") ou na forma de
de uma pergunta ("Sinto que você tem fortes sentimentos por
alguém nesta sala. Estou certo?") A maioria das afirmações específicas é
fornecida pelo próprio cliente.
Alguns especialistas em leitura a frio dão ênfase a prestar
atenção à linguagem corporal e coisas como as roupas do cliente.
O leitor começa com generalidades que são aplicáveis a
amplos segmentos da população. Presta cuidadosa atenção às reações: palavras,
linguagem corporal, cor da pele, padrões de respiração, dilatação ou contração
das pupilas, e outras coisas mais. O cliente da leitura geralmente irá
transmitir informações importantes ao leitor, às vezes em palavras e às vezes
em reações corporais à leitura.
A partir da observação, o leitor irá retransmitir ao
cliente o que este gostaria de ouvir. Esse é o princípio guia da esmagadora
maioria dos místicos: Diga a eles o que desejam ouvir. Isso irá fazer com que
voltem sempre (Steiner 1989: 21).
Além disso, aquelas ocasiões em que o paranormal
tiver dado um palpite errado sobre o cliente serão esquecidas por este
e pela platéia. O que será lembrado serão os aparentes acertos, dando a
impressão geral de "Uau! De que outra forma ela poderia saber tudo isso a
não ser que ela seja paranormal?". Esse mesmo fenômeno de supressão das
evidências em contrário e de pensamento seletivo é
tão predominante em toda forma de demonstração paranormal que parece estar
relacionada ao velho princípio psicológico: um homem vê o que quer ver e desconsidera
o resto.
Muitas das leituras a frio não se apóiam no jogar verde,
vagueza ou palpites. A chave para uma leitura bem sucedida é a disposição,
capacidade e esforço por parte do cliente em encontrar sentido e importância
nas palavras do paranormal, astrólogo, quiromante, médium, ou similar. Um
médium que alega receber mensagens dos mortos poderia disparar uma cadeia de
imagens ambíguas para o cliente. Figura paterna, mês de maio, grande H
e H com som de N, Henna, Henry, M, talvez Michael, ensino, livros, talvez algo
publicado. Esta lista poderia significar coisas diferentes para
diferentes pessoas. As chances de que o cliente encontre significado em
numerosos conjuntos diferentes de palavras e frases são favoráveis ao médium.
Se o cliente conectar apenas algumas delas, pode achar que isso é sinal
satisfatório de que o médium fez contato com um parente falecido. Se não
encontrar nenhum significado ou sentido na cadeia, o médium ainda assim vence.
Ele pode tentar outra cadeia. Pode insistir em que há um sentido, mas que o
cliente simplesmente não está se esforçando o bastante para enxergá-lo. Pode
sugerir que alguns espíritos intrusos estão criando confusão. É uma situação em
que a vitória é certa para o médium porque o encargo de encontrar sentido nas
palavras está com o cliente, e não com ele.
Leituras a frio bem sucedidas às vezes são um atestado da
habilidade do leitor, mas são sempre um atestado da habilidade
do homem em encontrar sentido nos mais desconexos dos dados. A habilidade da
leitura a frio pode ser aperfeiçoada e transformada numa arte, como fazem os
profissionais que trabalham como médiuns, quiromantes, astrólogos, etc. Muitos
desses profissionais podem nem mesmo se dar conta de que fazem isso e atribuir
o alto índice de satisfação dos clientes à veracidade da astrologia ou da
quiromancia. Podem até acreditar na realidade do mundo espiritual ao se
convencerem de que sinais significativos do além às vezes se destacam em meio
ao ruído do dia-a-dia e são detectados por médiuns habilidosos. Alguns desses
profissionais sabem o que fazem e enganam o público, senão a si próprios.
Outros sabem o que estão fazendo mas contam aos clientes ou platéias, após as
apresentações, que não precisam de nenhum poder paranormal ou sobrenatural para
realizar suas proezas.
As leituras bem sucedidas que envolvem o contato com entes
queridos falecidos são um atestado da maravilhosa capacidade da nossa espécie
de encontrar significado em praticamente qualquer imagem, palavra, frase ou
cadeia desses itens. Podemos descobrir Jesus numa tortilha queimada, Madre
Teresa num pão de canela, a Virgem Maria numa mancha causada pela água ou na
descoloração da casca de uma árvore, ou Vladimir Lênin numa mancha de
sabonete numa cortina de chuveiro (pareidolia). Podemos ver o
demônio numa poça d'água e ouvi-lo tentando-nos (apofenia). O mesmo cérebro
humano complexo que nos torna possível encontrar esses significados ilusórios é
o que nos permite escrever e apreciar poesia diversificada e descobrir padrões
reais na natureza. Este nosso maravilhoso cérebro, produto de dezenas de
milhares de anos de evolução, também nos torna possível iludir a outros e a nós
mesmos. Ainda mais maravilhoso é o fato de que este nosso cérebro pode ser
usado para tentar compreender as muitas maneiras pelas quais acertamos ou
erramos ao tentar encontrar sentido na vida e na morte.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirExcelente. Vou incluir isso no meu livro "Diário de uma cartomante" que estou escrevendo.
ResponderExcluirParabens otimo conteudo,boas esplicacoes
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